Penso: talvez haja uma luz dentro dos homens, talvez uma claridade, talvez os homens não sejam feitos de escuridão, talvez as certezas sejam uma aragem dentro dos homens e talvez os homens sejam as certezas que possuem.
Pelo dedo que nos une, a tua morte tem avançado para dentro de mim como uma doença a querer progredir. Sinto a minha mão tão gelada como a tua, sinto o sangue a passar-me pelas veias da mão e a correr gelado pelo corpo todo, sinto o meu corpo tão gelado como o teu. Irmão, ouvi-te antes de morreres e tu não me ouves agora. As minhas palavras aqui são como palavras invisíveis de alguém que as leia, palavras a envelhecerem por não haver quem as compreenda, a perderem o seu significado, a misturarem-se imperceptíveis numa brisa em que ninguém repara. [...] Irmão, se estando morto continuasse pegado a ti, queria morrer agora para seguir vivendo.
Fragmento de Nenhum Olhar que versa sobre la muerte de un siamés -realismo mágico portugués-, novela de José Luís Peixoto.
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